Havia, lá na vizinhança, um casal...de péssimas relações, devo dizer!
Discutiam tanta e de tal forma, que não era preciso aguçar os ouvidos para saber qual o tema da discussão do dia.
A mulher, tinhosa de ruim que era, barafustava com tal veemênia que parecia ser vítima de todos os males deste mundo (e do outro!!).
Um dia houve em que, após longa e tumultuosa discussão, a mulher disse:
"Vou matar-me!!Vou deitar-me ao mar, não posso aturar mais isto!!"
Chovia muito nesse dia...o vento soprava com tanta força que era quase impossível andar na rua.
Ela, declarado o seu intento de por um terminus à sua vida, calçou as galochas, vestiu o sobretudo e agarrou no guarda-chuva, despedindo-se do marido e dos filhos:
"Adeus, não mais voltarão a ver-me!"
Lágrimas, gritos, sofrimento...por parte dos filhos, porque o marido, esse, mantinha-se impávido e sereno na sua poltrona contemplando o horizonte cinzento e ameaçador.
E a mulher saíu porta fora, olhando para trás de soslaio, a ver se alguém a tentava impedir.
Os miúdos gritavam, inocentes das artimanhas que a vida nos ensina a emoldurar quando queremos chamar a tenção de alguém...
"Pai!!!Pai, a mãe vai morrer..."
E o homem sorria...olhava o horizonte, e sorria.
"Pai..."
"Acalmem-se meus filhos...a vossa mãe não vai morrer."
"Mas ela disse..."
"Sim, disse que ia atirar-se ao mar, certo?"
"Sim..."
"Então...quem vai atirar-se ao mar não tem a preocupação de calçar as galochas para não molhar os pés, nem de vestir o sobretudo para não molhar o corpo, nem tão pouco de levar o guarda chuva para que não se molhem os cabelos..."
Tipo esperto, hein?!